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Mesa para um só #51

  • 11 de set. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de nov. de 2022

Te assisto aqui de baixo agora. Um pouco mais pra cima de onde eu estava, mas ainda assim distante de você. Passaram-se semanas desde a última vez que te fiz um café e te entreguei um livro. Havia sol naquele dia, beijos e abraços também. Eu sinto uma saudade avassaladora toda vez que eu leio ou escuto o seu nome e na maior parte das vezes, sou eu mesma quem fala. Quero caminhar para longe, como te percebo fazendo, mas fica mais difícil fazer isso quando tudo o que tenho agora são aquelas memórias. E eu preciso deixá-las, eu sei que preciso, então eu deixarei aqui.



Me apego ao voo livre que dei em sua direção naquela vez em que os teus olhos descansaram em mim, você mal estacionou o carro e os teus braços já se abriram para me receber. Eu te reconheci, mas não pude na hora perceber que seria a minha nova casa.

Tudo tinha o som da sua risada e as suas mãos não paravam de me procurar, inclusive, eu conhecia naqueles dias as mãos mais carinhosas dos últimos tempos. Elas me buscavam o dia todo, enrolavam-se no meu pescoço, tomando todo o meu amor. Foi aí que eu pensei em alto e bom som - enquanto dirigia - que eu poderia arrumar um jeito de ficar, lembra? Eu continuaria te beijando em todas as esquinas e te acordando com um “te amo”. Todos os dias eu ganharia uma nova chance de aprender algo com você, de aprender sobre você. Eu teria a oportunidade de ver a vida através do seu olhar. Você deu o sorriso mais lindo quando ouviu eu dizer tudo isso pra você.

No outro dia já era a hora de mudar. Tudo coube no espaço que determinamos, foram algumas viagens, mas tudo deu certo. Tudo sempre dá, né? Você estourava aquela garrafa e abria ali a sua nova vida. Foguetes no céu explodiam, era a sua vida sincronizada com o universo. Aos poucos tudo foi ganhando mais cor, os espaços foram preenchidos, o frio passou, até o verde ficou mais vivo, agora só faltava cobrir a rede.

Já que o jardim estava por lá, decidi escrever sobre as borboletas que o céu havia prometido à terra. Naquela manhã eu conquistei o seu sorriso de canto com esse poema e agora eu tenho saudade de sentir aquelas borboletas aqui. Flores do campo ou margaridas? Aquelas primeiras flores do campo eu acho que me fizeram gostar ainda mais de você. Sua foto com elas eu via todos os dias, de tão linda.

Encontrei um bilhete junto com as minhas coisas ontem, dizia nele que tudo ia ficar bem, mas agora não está. Aliás, haviam bilhetes por toda a parte e essa parte era uma das que eu mais gostava em nós, havia sempre um lembrete de que estávamos ali, de que o amor vivia.

Abre uma garrafa de vinho, hoje vamos cozinhar! Acho que tive uma ideia melhor… tem uma pizza na varanda nos esperando. Vamos conversar mais um pouco, tentar nos entender ou apenas viver o que temos aqui. Entramos e você capotou no sofá, eu gostava da cama, mas ela não era a mesma sem você, então eu ia de madrugada te buscar na sala. Os cachorros já conheciam os nossos horários e eu sinto falta daquele bafinho acompanhado das patadas em meu peito, bem cedo.

Tenho saudade daquele cantinho apertado, tenho saudade do nosso começo, das nossas conversas, dos teus sorrisos, beijos, de passar minutos perdida no tempo te olhando e admirando. Tenho saudade da tua alegria, compreensão, cuidado e até mesmo de quando a sua coragem se mostrava através da sua vulnerabilidade. Sentia que havia ali uma construção de nós. Mas agora eu não quero mais viver e sentir saudade disso, não posso segurar isso tudo sozinha.

Os dias estão passando lentamente aqui embaixo, parece com aqueles dias que nós contávamos mais um e menos um, até chegar a hora mais esperada por nós. Agora eu conto mais um sozinha… mais um dia longe de casa. Venho aprendendo algumas coisas sobre os costumes que eu tinha e a minha maior conquista, pouco a pouco, tem sido muda-los.

Agora eu acordo cedo de novo e a cada manhã eu tento esquecer de quando você me segurava um pouco mais na cama… eu amava. Caminho até a cozinha e ninguém vem até mim, ninguém encosta a cabeça no meu peito pedindo carinho, ninguém. Não tem mais nenhum bilhete espalhado pela casa. Agora eu peço mesa pra um.

Devo admitir que tenho vivido momentos legais também, visitei um trapiche novo com a bike, estou mais conectada com Deus; lembra que a gente falava dele?

Eu dou imensos sorrisos quando te vejo através da tela, sorrindo sem parar. Continua lindo te assistir viver. Mas preciso respeitar a sua escolha de ida e preciso me ajudar agora.

Sempre estarei feliz com a tua felicidade, vai ser assim sempre, eu vou te amar pra sempre!


Alguém me fala onde estão as coisas aqui em casa?

Vou procurar o que preciso for para continuar, nos vemos em breve ou quando a ferida curar.


Com amor,

Kauzinha.

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4 Comments


Unknown member
Sep 23, 2022

Estou vivendo esse texto, infelizmente. Obrigada por colocar em palavras o que nem minha cabeça conseguia distinguir.

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Unknown member
Sep 16, 2022

Nossa que forte o legal de ler e que vc vai na história e fica imaginando cada frase como se agente que está lendo fizesse parte da história muito lindo parabéns 😍😍😍😍

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Unknown member
Sep 12, 2022

Que forte Kau! Sempre admiro tudo que você escreve, muito sentimento em casa linha lida. Você é foda!

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Unknown member
Sep 12, 2022

Esse amor com certeza é inquebrantável... Não existe separação porque o amor é o Elo que uni Todas as coisas no tempo e no espaço. Pode até "parecer" que os corpos não estão juntos, mas as mentes estão conectadas, e continuam se relacionando eternamente. Nada te falta, tudo que você precisa está aqui e agora. Confia que a vida traz tudo que você precisa aqui e agora.

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"Vá fundo dentro de si mesmo, pois há uma fonte de benevolência preparada para fluir se você continuar."

- Marco Aurélio

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